Como
se sabe a cor preta é resultado da ausência e absorção de luz e por sua vez
está sempre em contraste com o branco. Desde muito tempo o preto é relacionado
com a ideia do obscuro; escuridão; o mal; as trevas, assim contrastando com o
branco que representa a luz, a paz, contudo tem os seus momentos de “brilho”
dentro da sociedade, sendo utilizado para demarcar hierarquias e posições
sociais entre outros, através de uso de vestimentas e utensílios.
Pode-se
dizer que o preto é um dos pigmentos mais antigos que existem. Extraído primeiramente
do carvão ou ossos queimados e depois ainda do pó de oxido manganês, foi muito
utilizado pelos povos paleolíticos em pinturas nas cavernas. No Egito antigo
simbolizava a cor da fertilidade, a cor do rico solo negro, era ainda a cor de
Anubis – o deus do submundo- que teria aparecido em forma de um chacal negro e
ofereceu proteção contra o mal e os mortos.
Na
antiga Grécia também representava a cor do submundo, cujo deus era Hades que em
seu reino ficava sentado em um trono de ébano negro. O submundo na visão grega
era separado do mundo dos vivos pelo rio Aqueronte, o qual a água era negra.
Aqueles que cometeram os piores pecados foram enviados para o Tártaro, o nível
mais profundo e mais escuro.
Já
no antigo Império Romano, na hierarquia social, o preto era utilizado nas
vestimentas dos artesãos – O roxo era reservado ao Imperador; o vermelho aos
soldados e o branco aos sacerdotes – contudo não era um preto rico, profundo,
de cor forte e sim uma cor de fácil desbotamento já que os pigmentos vegetais
da época não eram duradouros. Ainda na Roma antiga, o preto representava o
luto, sendo, no século II a.C., utilizado pelos magistrados romanos, que usavam
uma toga escura, chamada toga pulla, para cerimônias fúnebres. Posteriormente,
sob o Império, a família do falecido também usava cores escuras por um longo
período; depois de um banquete, para marcar o fim do luto, trocava-se o preto
por uma toga branca.
Na
idade média, logo de início, a cor preta era associada ao mal, as trevas, as
bruxas. Ainda entre os séculos XII e XIII, a cor não possuía muito prestigio
quando se tratava de moda, sendo o vermelho a cor mais cobiçada por ser a cor
da nobreza. Era utilizada pelos monges como sinal de penitência e humildade. A
nobreza em sua maioria utilizava cores vivas e chamativas e o preto raramente
aparecia entre as vestimentas dos nobres, com exceção foi o pelo do sable, que
era um pelo brilhante e tornou-se a pele mais fina e mais cara Europa. Foi
importado de Rússia e Polônia e usado para aparar as vestes e vestidos da
realeza. No mundo medieval do Sacro Império Romano da Alemanha, a cor preta
simbolizava o sigilo, o mistério e também o poder, por isso era utilizada em
seu emblema que era uma águia negra.
Já
no século XIV, com a chegada de um pigmento de uma cor profunda e rica, o preto
recebeu um novo status. Passou a ser utilizado por Magistrados e funcionários
do governo para indicar um sinal da importância e seriedade de suas posições.
Além disso, foram aprovadas leis suntuárias em algumas partes da Europa que
proibia que roupas caras e certas cores fossem utilizadas por qualquer um,
exceto membros da nobreza. Os famosos mantos escarlates brilhantes de Veneza e
os tecidos azuis pavão de Florence estavam restritos à nobreza. Em resposta, os
ricos banqueiros e mercadores do norte da Itália mudaram para vestes pretas e
vestidos, feitos com os tecidos mais caros.
O
uso da cor preta, um tom mais austero, mas elegante foi rapidamente notada
pelos reis e nobreza, assim, ao longo do século XIV a cor preta tornou-se moda
entre a nobreza. Os governantes europeus viam isso como a cor do poder, da
dignidade, da humildade e da temperança. No final do século 16, era a cor usada
por quase todos os monarcas de Europa e seus tribunais.
No
século XVI, com a reforma protestante (1517) o preto passou a ser também a cor
adotada pelos lideres protestantes em suas vestimentas. por ser uma cor sóbria.
Por sua vez viam a cor vermelha utilizada pelos católicos como a cor do pecado,
da luxuria e da loucura humana. Quando ocorre a contra reforma (1545), os líderes
católico decidem por adotar o preto sóbrio em suas vestimentas, porem mantendo
o colorido nos interiores de suas igrejas, nas pinturas, para atrair os fiéis.
Já
no século XVIII, onde a Europa se encontrava na Era do Iluminismo, Paris havia
se tornado a capital da moda. Nesse contexto o preto deixou de ser a cor da
moda e passam a predominar as cores pastéis, azuis, verdes, amarelos e brancos
tornaram-se as cores da nobreza e das classes altas. Mas depois da Revolução Francesa,
o preto voltou a ser a cor dominante. Posteriormente no século XIX, o preto é
reconhecido como a cor da revolução industrial, inicialmente do carvão e em
seguida do petróleo, pois as produções nas fábricas faziam com que as ruas e
prédios ficassem tomados pela cor preta. Além disso as vestimentas pretas de
boa qualidade tornaram-se acessíveis a população em geral, isso se deve a
invenção de corantes pretos sintéticos de baixo custo e a industrialização da
indústria têxtil. A cor preta nesse contexto torna-se popular entre as
vestimentas de negócios da media e alta classe na Inglaterra, logo depois em
todo o continente europeu e na América.
No
final do XIX o preto se torna a cor da ideologia do Anarquismo – ideologia que
se opõe a toda forma de hierarquia e dominação política, econômica, etc. Já no
século XX o preto era a cor do Fascismo italiano, alemão e em outras regiões
europeias, utilizado para diferir seus aderentes dos comunistas que utilizavam
como cor simbólica o vermelho.
A
partir de 1950 a cor preta se torna marcante símbolo de individualidade e
rebelião intelectual e social, a cor dos que não aceitavam normas e valores
estabelecidos. Jaquetas de couro pretas eram usadas por gangues de
motociclistas, como os Hells Angels e gangues de rua nas margens da sociedade.
Estados Unidos, representando a cor de rebeldia e sendo celebrada em filmes
como O Selvagem, com Marlon Brando. No final do século XX, o preto se torna a
simbologia da subcultura punk do punk e a subcultura gótica – que surgiu na Inglaterra
nos anos 80 e inspirou-se nas vestimentas de luto da era vitoriana.
Ainda
na década de 90, as vestimentas pretas dos homens de negócio cedem espaço ao
azul marinho e os vestidos de noite pretos e vestidos formais eram cada vez
menos utilizados. Em 1926 a moda feminina é revolucionada e simplificada por
Coco Chanel, quando o mesmo publica pela revista Vogue o desenho de um vestido preto usual e diz “Uma mulher precisa
de apenas três coisas: um vestido preto, um suéter preto e, no braço, um homem
que ela ama”. Chanel lançou a tendência do pequeno vestido preto que foi e
outros designers contribuíram para a fama do look. Nas palavras do designer
italiano Gianni Versace: “O preto é a quintessência da simplicidade e
elegância”, já para o francês Yves Saint Laurent: “o preto é a ligação que liga
arte e moda”.
O
look simplista do vestido preto ganhou grande notoriedade com um dos vestidos
pretos mais famosos do século XX, o vestido preto – simples, porém glamoroso –
projetado por Hubert de Givenchy exclusivamente para o filme Breakfast at
Tiffany’s. (Bonequinha de Luxo) e usado nas telinhas por Audrey Hepburn. O
filme se passa na década de 60 – foi no Brasil lançado em 1961 – onde o preto
não era uma escolha tão óbvia entre as mulheres no geral. O contexto histórico
era 16 anos pós segunda guerra mundial e as mulheres que trabalharam na guerra,
haviam voltado para o lar e serem donas de casa, então o estilo floral mais
feminino se tornaram tendência dando lugar ao estilo mais prático como os
utilizados na guerra.
Assim
a cor preta, nesse contexto simbolizava o luto, porem também mulheres fortes,
independentes e sedutoras, como a personagem de Audrey, Holly, que era uma
garota de programa. Ali o preto tinha como objetivo demonstrar o estilo de vida
da personagem, que era um tanto quanto desvirtuoso, O preto nesse sentido
aparece em diferentes looks de Holly, pois é uma cor versátil que não precisa
de muitos cuidados, além disso é uma cor pra quem dispõe de poucos recursos e é
(até os dias de hoje) a cor básica para
quem não entende de moda (como a personagem, que era originalmente uma
“caipira”) e assim não errar no look.
Seus
looks eram montados especificamente para mostrar seu estilo extrovertido,
descolado, legal, espontâneo, sensual, mas nunca promiscuo, pois apesar de ser
uma garota de programa o assunto foi tratado no filme com muita cautela, como
exigia a época e foi tratado com êxito
já que o filme foi um sucesso. Nos dias
atuais o preto se encontra no guarda-roupa da maioria das pessoas, entre homens
e mulheres, entre peças simples e mais sofisticadas sempre pronto para dar
aquele up no visual e claro, sendo a cor chave para quem não quer errar no
look.
Espero que tenham gostado!
Fontes: https://bit.ly/2XehH3z